O Sindicato dos Banc\u00e1rios do Rio de Janeiro publicou no jornal\u00a0BancaRio<\/a>,<\/a>\u00a0em novembro de 2017, que \u201co Conselho Diretor da Caixa Econ\u00f4mica Federal decidiu transferir os empregados e todos os setores do pr\u00e9dio da Avenida Almirante Barroso para o empreendimento Acqwa Corporate, pertencente \u00e0 empresa internacional Tyshman Speyer\u201d, localizado na \u00e1rea da Opera\u00e7\u00e3o Urbana Consorciada Porto Maravilha. A mat\u00e9ria considera esta \u201cmais uma transa\u00e7\u00e3o nebulosa\u201d da Caixa, decidida sem qualquer debate e baseada em estudos t\u00e9cnicos de acesso restrito at\u00e9 para os funcion\u00e1rios da \u00e1rea de log\u00edstica da empresa.<\/p>\n O vice-presidente do sindicato,\u00a0Paulo Matileti<\/a>, cobrou do presidente da Caixa Gilberto Occhi a suspens\u00e3o do processo de mudan\u00e7a para a regi\u00e3o portu\u00e1ria. Segundo o sindicalista, \u201co presidente da Caixa recebeu o of\u00edcio, mas n\u00e3o fez qualquer men\u00e7\u00e3o quanto \u00e0 possibilidade de revers\u00e3o da transfer\u00eancia\u201d. Matileti afirma, ainda, que a dire\u00e7\u00e3o da Caixa alegou que investiu \u201cmais de R$ 5 bilh\u00f5es do FGTS nas obras do Porto Maravilha, da qual grandes empresas fazem parte, e a transfer\u00eancia da empresa faz parte deste projeto\u201d.<\/p>\n O presidente da Caixa declarou tamb\u00e9m que \u201co pr\u00e9dio da Barroso est\u00e1 deteriorado e que uma reforma custaria mais caro do que a mudan\u00e7a para o novo im\u00f3vel\u201d. O atual im\u00f3vel ocupado pela empresa localiza-se no cora\u00e7\u00e3o do Rio, na esquina das Avenidas Rio Branco e Almirante Barroso. Foi projetado e constru\u00eddo nos anos 1960, especialmente para a Caixa. Em 2003, passou a lastrear o Fundo de Investimento Imobili\u00e1rio Edif\u00edcio Almirante Barroso, administrado\u00a0pelo banco BTG Pactual Servi\u00e7os Financeiros S.A., cujo \u00fanico locat\u00e1rio \u00e9 a pr\u00f3pria Caixa.<\/p>\n <\/p>\n A Tishman Speyer \u00e9 uma incorporadora e administradora imobili\u00e1ria\u00a0 transnacional de empreendimentos de alto padr\u00e3o em todo o mundo. Em seu website, o\u00a0AQWA Corporate<\/a>\u00a0\u00e9 descrito como um arrojado \u201ccomplexo corporativo Classe A assinado por Foster+Partners e desenvolvido com a expertise global\u201d. O im\u00f3vel est\u00e1 localizado \u00e0 beira da Ba\u00eda de Guanabara\u00a0e, segundo a empresa, \u201cestrategicamente posicionado no cora\u00e7\u00e3o da maior \u00e1rea de interven\u00e7\u00e3o urbana do pa\u00eds \u2013 o Porto Maravilha\u201d. Enfatizando a vista da beleza da cidade, o site informa, ainda, que o pr\u00e9dio ter\u00e1 21 andares e dispor\u00e1 de 74.231 m\u00b2 de \u00e1rea (loc\u00e1vel).<\/p>\n O site especializado em economia\u00a0Relat\u00f3rio Reservado<\/a>, em nota intitulada \u201cPorto fantasma\u201d, de julho do ano passado, cita os efeitos da crise econ\u00f4mica e as dificuldades enfrentadas pela Tishman Speyer para fechar um s\u00f3 contrato de loca\u00e7\u00e3o do Aqwa Corporate. Comenta ainda que, nessa \u00e9poca, \u201co \u00edndice de im\u00f3veis comerciais vazios na regi\u00e3o portu\u00e1ria do Rio beira os 89%\u201d. Mais recentemente, outra nota, intitulada\u00a0\u201cLegado ol\u00edmpico \u2013 Porto Maravilha\u201d<\/a>, informa que a \u201cTishman Speyer j\u00e1 baixou em 40% o valor da loca\u00e7\u00e3o do Aqwa Corporate, no Porto Maravilha, no Rio. Ainda assim, cerca de 70% do pr\u00e9dio seguem vazios\u201d.<\/a><\/p>\n A Caixa tornou-se a maior investidora do Porto Maravilha quando, em 2010, comprou todos os certificados de potencial adicional de constru\u00e7\u00e3o (Cepacs) da Opera\u00e7\u00e3o Urbana Porto Maravilha, usando R$ 8 bilh\u00f5es do FGTS. Assumiu tamb\u00e9m a gest\u00e3o dos fundos imobili\u00e1rios criados especialmente para a opera\u00e7\u00e3o, dentre os quais o Fundo de Investimento Imobili\u00e1rio Porto Maravilha (FII PM), onde foram depositados todos os Cepacs. Na condi\u00e7\u00e3o de propriet\u00e1rio desses t\u00edtulos, o fundo passou a investir nas torres comerciais de alto padr\u00e3o e associou-se aos empreendedores da regi\u00e3o, que n\u00e3o mais precisaram comprar os certificados correspondentes \u00e0queles empreendimentos.<\/p>\n Not\u00edcia do jornal Valor sobre o primeiro neg\u00f3cio desenvolvido pela parceria Caixa-Tishman Speyer menciona que o FII Porto Maravilha participou do projeto com o terreno e os Cepacs, enquanto a empresa estrangeira entrou com \u201co investimento total necess\u00e1rio para o projeto\u201d. A Caixa, gestora do FGTS e do FII PM, assumiu esse tipo de associa\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m nos demais empreendimentos imobili\u00e1rios da regi\u00e3o.<\/p>\n <\/p>\n Com a\u00a0d\u00e9b\u00e2cle<\/em>\u00a0do Porto Maravilha, a Caixa, ou melhor, o FGTS \u2013 fundo p\u00fablico de propriedade dos trabalhadores \u2013, tem amargado preju\u00edzos. A decis\u00e3o da estatal de alugar o edif\u00edcio \u00e9, uma vez mais, a repeti\u00e7\u00e3o da cl\u00e1ssica \u201csolu\u00e7\u00e3o\u201d brasileira: usar o fundo p\u00fablico, os recursos dos trabalhadores e trabalhadoras, para salvar investidores e incorporadoras transnacionais..<\/p>\n \/\/<\/p>\n *\u00a0Helena Galiza\u00a0<\/strong>\u00e9\u00a0Arquiteta, doutora em urbanismo, pesquisadora do Laborat\u00f3rio Ettern\/Ippur\/UFRJ. Trabalhou mais de trinta anos no governo federal (BNH, Iphan e Caixa Econ\u00f4mica Federal), com pol\u00edtica urbana, habita\u00e7\u00e3o social e reabilita\u00e7\u00e3o de \u00e1reas centrais. Presta assessoria t\u00e9cnica volunt\u00e1ria a movimentos sociais de luta pela moradia nas \u00e1reas centraiscordi. Teve a opera\u00e7\u00e3o Porto Maravilha como estudo de caso da tese doutorado (UFRJ, 2015).\u00a0Lattes<\/a><\/p>\n **\u00a0Raquel Rolnik<\/b>\u00a0\u00e9 urbanista, professora de Planejamento Urbano da FAU USP e coordenadora do LabCidade. Livre-docente pela FAU USP e doutora pela New York University, foi coordenadora de urbanismo do Instituto P\u00f3lis, diretora de Planejamento Urbano da cidade de S\u00e3o Paulo, secret\u00e1ria de Programas Urbanos do Minist\u00e9rio das Cidades e relatora especial da ONU para o Direito \u00e0 Moradia Adequada. \u00c9 autora dos livros \u201cO que \u00e9 a Cidade\u201d, \u201cA Cidade e a Lei\u201d, \u201cFolha Explica S\u00e3o Paulo\u201d e \u201cGuerra dos Lugares\u201d.
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